domingo, março 7

Em busca do pássaro azul



Era um tempo bom, em que os filmes tinham "moral da história", nas escolas ensinavam "Educação Moral e Cívica" e as mães educavam sem ajuda de psicólogos.

Em busca do pássaro Azul fala de valores e, de como a família é importante para a base de todo indivíduo.

No inicio do filme (colorido por computador) vemos duas crianças na floresta; dois irmãos (Mytyl e Tyltyl) eles apanham um pássaro azul, lindo.

Os dois vão para casa e, no caminho vêm a cidade enfeitada pra época de Natal e, param em frente de uma casa de pessoas ricas.

Mytyl não entende porque aquelas pessoas tem mais coisas do que sua familia e, sente que não são felizes como eles.

Ai a história se desenrola.

Em uma viagem fantástica; as duas crianças, uma gata (Tylette) e um cachorro (Tylo) saem de casa para percorrer um mundo de fantasias; com fadas, reinos mágicos e personagens pra lá de carismáticos.

A fada Berrylune os faz viajar pelo tempo e para o interior de si mesmos em busca de um pássaro que precisa ser encontrado por todos nós.

A simbologia do filme é maravilhosa; adorei cenas como a do cemitério, onde eles reencontram os avós, já mortos. Faz a gente voltar a inocência de ser criança.

Outra cena maravilhosa é a fuga da casa do Senhor e Senhora Fartura, onde os irmãos se reconciliam e decidem fugir da fartura que os separou.

O barco do futuro, onde eles encontram a irmãzinha que ainda não nasceu; o incêndio na floresta que foi um grande equivoco provocado pelo  egoísmo e maldade da gata Tylette.
Ela morre nesta cena e volta a reaparecer em casa; no final do filme, pois gatos têm sete vidas.

A Luz; interpretada por uma atriz lindíssima da época, chamada Helen Hericson, é a personagem mais bacana da história, porque guia os garotos do passado ao futuro na busca pelo pássaro, sem interferir nas suas escolhas.

É um tesouro, esse filme; nunca vi outro igual.

Difícil é encontrá-lo em locadoras e, somente na TV a cabo podemos vê-lo (TCM), com sorte.

Deve ter sido escrito para crianças, mas a busca da menina Mityl (Shirley Temple) pelo pássaro azul da felicidade emociona a quem quer que o veja, sem contar a fotografia e os efeitos visuais que são fascinantes.

Me remete ao tempo em que encontrar a felicidade era a coisa mais importante a se fazer e, você aprendia isso quando criança.




sábado, março 6

A menina e o Pássaro

Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Esta história, eu não a inventei.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…
As mais belas histórias de Rubem Alves
Lisboa, Edições Asa, 2003





A menina e o pássaro encantado

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão… Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti… E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro. Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça. Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes. E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre. Mas chegava a hora da tristeza. Tenho de ir dizia. Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho… Eu também terei saudades dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar. Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…” Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro… Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora… A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo… Até que não aguentou mais. Abriu a porta da gaiola. Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres… Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar… E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia. Que bom pensava ela o meu pássaro está a ficar encantado de novo… E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra. Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje… Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah! Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama… E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….” E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.








Mas eu pensei que o amor só fosse alegria
Nunca imaginava que amando
Fosse infeliz algum dia (Nando Reis)

segunda-feira, março 1

mi vida de pelukera - O cheque



Peguei o cheque e coloquei dentro da agenda, onde ficam os demais e fui ao banheiro ver meu rosto num outro "insight". No salão tem muitos espelhos, mas aquela que se reflete lá, não sou eu.

O telefone tocou em seguida e eu vim me esgueirando pelo corredor apertado que sai da cozinha em direção a sala. Me pergunto quando vou limpar essa bagunça.

-EU!!! (atendo sempre assim)

Do outro lado alguém fala com voz desconsertada.

-Oi Simone! É a Júlia que tá falando; acabei de sair dai, mas queria saber se posso voltar pra gente conversar? Você já deve saber o motivo...

Nessas horas penso que formol realmente faz mal a saúde, com atenção maior ao cérebro.

Do que ela estaria falando? Eu costumo me transportar pra fora do corpo quando certas pessoas desandam a falar demais. É muita nora, muita sogra, muito marido, então, as vezes quando dou por mim, estou na minha antiga rua; com treze anos, esperando o caminhão de leite chegar para ver o menino mais lindo do mundo (o leiteiro que eu namorava) e, quando me dou conta, perdi a narrativa de um capítulo fantástico da vida de uma cliente.

Não deixo transparecer que estou "boiando" e digo:

-Vem sim!

-Ok. Estou na porta.

Abro a porta com a minha melhor cara de "isso é completamente normal" e peço para ela entrar.

Ela já sobe o degrau falando sem parar:

-Eu não queria isso pra minha vida, mas aconteceu e hoje não tem como voltar atrás; somos pessoas adultas e vamos ficar juntos assim que ele contar pra ela. Ela vai ter que entender

Ferrô.


Ela me pagara com o cheque do marido da melhor amiga (minha cliente também).