sexta-feira, junho 25






desde que nascemos sofremos de uma doença irreversível, progressiva e degenerativa: a propria vida.

Cerro os meus olhos, e tento flutuar
Por sobre as águas deste rio caudaloso
Que me atravessa o pensamento…
Mas sinto a vida a doer-me!
E deixo-me, naufragar
Nos negros fundões do desalento…!


A vida dói-me!
Porque me dói o frio, na noite incalma…
Mais este vazio de não saber
Se ainda tenho alma…!
Dói-me o sabor amargo da frustração!
Dói-me o abraço, hipócrita
E o sorriso de obrigação…
E sinto um povo a doer-me
No lugar do coração!


Doem-me, os ideais estagnados
Com tanta coisa por fazer…
Doem-me, os sonhos apagados
Esquecidos do amanhecer…
Dói-me o ontem do medo
E da treva, de onde venho…
Dói-me o hoje tão distante
Da esperança que já não tenho…
Dói-me a vontade de rir
Ao meu desejo de morrer…
Dói-me esta força de resistir
Á minha dor de viver…!


Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto,
não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente
tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes,
que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples...
é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.

Luís Fernando Veríssimo