segunda-feira, março 1

mi vida de pelukera - O cheque



Peguei o cheque e coloquei dentro da agenda, onde ficam os demais e fui ao banheiro ver meu rosto num outro "insight". No salão tem muitos espelhos, mas aquela que se reflete lá, não sou eu.

O telefone tocou em seguida e eu vim me esgueirando pelo corredor apertado que sai da cozinha em direção a sala. Me pergunto quando vou limpar essa bagunça.

-EU!!! (atendo sempre assim)

Do outro lado alguém fala com voz desconsertada.

-Oi Simone! É a Júlia que tá falando; acabei de sair dai, mas queria saber se posso voltar pra gente conversar? Você já deve saber o motivo...

Nessas horas penso que formol realmente faz mal a saúde, com atenção maior ao cérebro.

Do que ela estaria falando? Eu costumo me transportar pra fora do corpo quando certas pessoas desandam a falar demais. É muita nora, muita sogra, muito marido, então, as vezes quando dou por mim, estou na minha antiga rua; com treze anos, esperando o caminhão de leite chegar para ver o menino mais lindo do mundo (o leiteiro que eu namorava) e, quando me dou conta, perdi a narrativa de um capítulo fantástico da vida de uma cliente.

Não deixo transparecer que estou "boiando" e digo:

-Vem sim!

-Ok. Estou na porta.

Abro a porta com a minha melhor cara de "isso é completamente normal" e peço para ela entrar.

Ela já sobe o degrau falando sem parar:

-Eu não queria isso pra minha vida, mas aconteceu e hoje não tem como voltar atrás; somos pessoas adultas e vamos ficar juntos assim que ele contar pra ela. Ela vai ter que entender

Ferrô.


Ela me pagara com o cheque do marido da melhor amiga (minha cliente também).



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