segunda-feira, novembro 10


Estava eu lendo algo sobre casamentos aqui na net, porque uma cliente vai casar e me perguntou se eu sabia porque ela não poderia esperar bonitona no altar? Por que tinha a sensação de estar sendo oferecida e entregue naquela cerimonia?

Eu respondi automático que era um rito de passagem e que por muitos anos foi assim e nós copiamos tudo; ninguém inventa mais nada.

Mas não é só isso. Ritos são celebrações e são pontes.É um conjunto de atividades organizadas, onde as pessoas se expressam por meio de gestos, símbolos, linguagem e comportamento com a finalidade de mostrar um inicio ou um estágio ou até mesmo o termino de um ciclo ou de uma vida e não é qualquer atividade padronizada que constitui um rito.

"Em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimonias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem. Essas cerimonias, mais do que representarem uma transição particular para o indivíduo, representava igualmente a sua progressiva aceitação e participação na sociedade na qual estava inserido, tendo, portanto tanto o cunho individual quanto o coletivo." (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)


Batizamos nossas crianças porque fomos batizados, mas a maioria das pessoas não entende que é um rito de apresentação onde é feita a promessa solene, em frente ao seu sacerdote ou pastor, de manter a criança na fé, os padrinhos escolhidos se tornam pais postiços na ausência dos pais biológicos (sabendo desse fato, quantos padrinhos aceitariam?).


A festa de Debutantes, onde a menina é apresentada a comunidade como mulher, deveria ser a marcação do início de uma nova fase na vida, mas hoje é vista mais como um compromisso social e, as vezes trocada por uma viagem a Disney. Enquanto ritos anteriores nem foram mencionados e passam em branco. Fatos como a primeira menstruação, marcando o momento em que a menina está entrando no seu período fértil, e está apta a preparar-se para o casamento.

hmmm

Lembro de como foi esse dia pra mim.

Andei pela casa inteira sangrando; eu tinha 11 anos e (pasmem!) não sabia o que estava acontecendo comigo. Se a vida estava se esvaindo pelas minhas pernas ou se aquilo ia passar. Nem imaginava que alguém espreitava minha agonia (ou seguia o rastro de sangue). Era minha mãe. Ela me chamou baixinho num canto da casa, como se fossemos dividir um segredo (eu me senti um agente secreto) e me deu um pacote enorme do "finado" MODESS (era um treco enorme; um verdadeiro fraldão) e disse: _mulher é um bicho sujo, isso vai acontecer todo mês!!! seu pai e seus irmãos não podem saber!!!

Bom, fui pro banheiro, sem ela me explicar como se usava aquilo (me sentindo agora mais como uma vaca do que como agente secreto) e, dois anos depois fui encurralada no mesmo cantinho da casa e, no mesmo tom de "KGB" que minha mãe tem (de novo com o pacote do "finado" MODESS) ela me disse: _pega isso! vai lá e conversa com a tua irmã!.

E eu fui. Peguei minha irmã num canto (coitada) dei o pacotão pra ela, apontei pro banheiro e disse as palavras magicas "mulher é um bicho sujo e todo mês vai acontecer isso, mas o pai, o Sérgio e o Júnior não podem saber hein!"

Eu não faço ideia de como ela se virou, mas foi assim o nosso rito de passagem de menina a mulher.

Para os meninos eu não sei como funciona, creio que tenha a ver com pelos (será?) e eu lembro também que meu pai implicava com meu irmão aos 13 porque ele ainda falava fino.

Recebi um e-mail essa semana que fala disso: sobre uma tribo de índios americanos, que submetia a criança (menino) a um ritual chamado "noite escura da alma"; onde a criança era vendada e deixada no meio da floresta para passar a noite e no outro dia deveria ser encontrada no mesmo local. No dia seguinte, quando a venda era retirada, o garoto percebia que seu pai estivera ali a noite inteira, e, que não poderia contar a experiência a nenhum outro garoto, e dai por diante era considerado um homem.

Achei até bonitinho (por que sou agente secreto e não índio) o ritual e, penso que não é abusivo ou violento; despertando a fé e a coragem.

Tem várias religiões que falam sobre "a noite escura" mas não tive tempo de pesquisar ( e é outra história) mas é um ritual de passagem e crescimento comum que pode ser utilizado por homens e mulheres; por isso me chamou a atenção.


Agora, voltando ao foco...essas cerimonias, marcavam pontos de desprendimento. Mudanças de hábitos e velhas atitudes eram abandonadas enquanto outras deviam ser aceitas. O convívio com algumas pessoas devia ser deixada para trás e novas pessoas passavam a constituir o grupo de relacionamento direto. Por vezes, a cada uma dessas cerimonias, a pessoa trocava até de nome e ela era uma nova pessoa, como no casamento; onde a mulher era ofertada (isso mesmo) e , deixava de pertencer ao pai para pertencer ao marido, que lhe dava seu nome

Falemos agora do último e não menos importante dos ritos.
Muitas culturas acreditam na vida após a morte, na ressurreição da carne (teoria de que voltaremos com o mesmo corpo), na evolução dos bichos, e por assim vai; teoria é o que não falta, mas dentre todos os ritos o único que não foi esquecido é o rito fúnebre. Os ritos fúnebres são realizados para se prestar um último tributo ao falecido.

Depois do ofício, o corpo do falecido é levado para ser cremado ou enterrado; lavado no rio (India), queimado junto com seus pertences (inclusive esposa e serviçais) como era costume viking e também utilizado por Faraós e a corte Egípcia; ou comido pela própria família (tribo amazônica Wari´ que acredita que vendo
o morto transformar-se em não-pessoa ajuda os enlutados a aceitar a morte ou pelo menos a encará-la como um fato incontornável) e assim o ciclo se completa, do batismo a morte. Meu psicólogo (que Dews o tenha, porque agora cobrando R$ 180,00 a consulta eu não tenho) dizia que as pessoas mais bem resolvidas são aquelas que não fogem das coisas que precisam ser vividas e os ritos são esse tipo de coisa. Mas precisamos saber do que se trata, porque nossos ritos viraram mitos e não vislumbramos mais a relação dessas cerimonias tão primitivas com a aceitação de certas verdades tão simples da vida, que são o nascimento, crescimento e morte.

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